O Degredo

Os últimos 37 meses de funcionário da Talaris foram simultaneamente os mais difíceis mas os que me deram mais gozo.

Sempre me dei muito mal com incompetentes e com aqueles que tal as plantas parasitas se alimentam da "seiva" dos outros e quando ganham raízes acabam por destruir quem os fez crescer.

Os primeiros meses deram logo para ver que alguns desses espécimes que por lá ainda hoje proliferam não me iam dar tréguas, mas a cumplicidade técnico-profissional  que  existiu praticamente desde o primeiro dia com o meu chefe direto Jorge Augusto, numa 1ª fase protegeu-me e na 2ª preparou-me para sobreviver sozinho.

Já a relação com JF, que sempre foi o chefe, apesar dos chefes que me foi arranjando, foi da minha parte sempre baseada na mais completa das frontalidades e lealdade. Montes de vezes não senti reciprocidade, sobretudo porque no seu egocentrismo, na mania que virou doutrina de que qualquer macaco com uma mala de ferramenta é um técnico capaz de resolver qualquer problema, nenhum colaborador é mais que um custo, as relações profissionais são um jogo de sobrevivência para os espertos e não para os competentes e, talvez por isto tudo, compra com muita facilidade tudo o que lhe for bem vendido, mesmo que pague preço de boutique por "roupa" de feira.

Nesta empresa, apesar de nunca ter passado disso, praticamente assentei praça em sargento e por isso nunca fiz muitas manutenções preventivas, apesar de nas minhas funções de coordenador técnico ter muitas vezes ensinado os técnicos a fazerem-nas corretamente, de forma a que proporcionassem os resultados desejados.

Há no entanto quem tendo começado no field como eu, hoje ocupe lugar de destaque, e porque sobrevive à custa dos mitos que soube criar, e chegou onde está não porque algum dia tenha sido uma estrela, mas porque "em terra de cego quem tem olho é rei", sabe, como eu sei, que se fosse fazer uma manutenção preventiva, teria de seguida chamar um técnico para que a máquina ficasse a funcionar.

Na expectativa de me deixar "mal na foto" vendeu, e o JF comprou, que o Suporte Técnico fosse fazer manutenções preventivas a ATM's, trabalho que nesta empresa sempre foi, erradamente, considerado um trabalho menor, praxe para iniciantes.

Como os "calos no rabo" servem para alguma coisa, escolhi as ATM que nos últimos 3 meses mais chamadas tinham originado e que por isso estavam com um call rate muito acima da média. Meia dúzia de preventivas chegaram para que o lobo saísse tosquiado, pois coincidência das coincidências, feitas as manut's todas as ATM's intervencionadas deixaram milagrosamente de avariar todos os dias e passaram a ter um call rate, nos meses seguintes, abaixo da média.

Apesar disso, esta guerrilha constante, estúpida e sem nexo, manteve-se durante os três anos, sem que ninguém, fizesse alguma coisa para a terminar, mesmo quando, algumas vezes, ela afetou o desempenho e até a imagem da companhia junto dos clientes.

Numa companhia que faz das reestruturações o seu modus vivendi, acabei na assessoria técnica à equipa de gestão de contratos, sob a batuta da chefinha Sandra, que alia a sua competência e profissionalismo a um contagiante e constante bom humor o que faz desta equipa um oásis, a ponto de muitas vezes me ter sentido num verdadeiro great place to work.

Resta-me agradecer às minhas professoras de português, do secundário, as redações que me obrigaram a fazer. Ser o redator de serviço foi um trabalho que me deu imenso gozo, mais ainda quando me passavam pelos olhos alguns mail's escritos em "português de Alverca".

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