Férias

Completam-se hoje exatamente 22 dias úteis que não tenho trabalho, isto é, acabei hoje de, à força, gozar as merecidas férias deste ano. Amanhã às nove da manha deveria começar a ler os mails, a fazer os mapas de preventivas!
 
Infelizmente não vai haver mails, e as preventivas, provavelmente não se fizeram, mas mesmo que se tivessem feito já não havia mapa. A companhia não se pode dar a esses luxos, e ficar em primeiro ou em quinto é a mesma coisa.
 
Dizia-me um colega de há mais de vinte anos (que começo novamente a encontrar) : - "...é a m...da de gestores que temos." É que, pelos vistos, isto não acontece só na Talaris; a troco da crise, neste país tudo virou luxo, tudo é supérfluo e mais ou menos como nas estórias da formiga, ou dos remadores que circulam na net, o tudo é só para quem produz e como tal não inclui BMW's, ordenados condizentes com a cilindrada, prémios no fim do ano (deve ser para os pneus, alguns devem ter um debrum a ouro...), e outras mordomias do género. 

Os lugares até podem estar ocupados por quem não tem perfil, nem habilitações, nem qualificações, mas as mordomias são direitos do lugar, são parte integrante do salário, não se pode mexer! 

Obviamente a doutrina é o oposto quando se trata do "mexilhão" e quando a lei não o permite, negoceia-se, com chantagem e aldrabices, aproveitando a crise e o facto "disto" não estar bom para ninguém; mas muito pior para quem não tem emprego. Que não se esqueçam, no entanto os gestores, que quando não houver empregados não há empresa e não havendo empresa não são necessários gestores.
 
Aproveitei as "férias" para enviar uns currículos  e tal como me tinham dito a coisa está preta. Os amigos acusaram a recepção com respostas politicamente corretas, quanto aos outros nem a simpatia de acusar a recepção tiveram.

Neste país deixou de se ter respeito por quem trabalha, e gente da minha idade é velho para trabalhar. A menos que tenha lugar no Governo do Passos Coelho, pois é malta da minha geração que faz o governo mais jovem dos últimos 30 anos. São a nossa última esperança!

Também foi hoje o dia de mais uma apresentação quinzenal. Lá fui, tal presidiário e depois pedi dispensa das apresentações durante o mês de Agosto. A família também tem direito a férias.

E depois do adeus...

Depois da despedida alguém parece apostado em demonstrar que afinal até me fizeram um favor....Não havia necessidade!
 
As propostas feitas a alguns dos ex-colegas, mantendo a linha de escolha anterior, pois sempre pertenceram ao grupo dos melhores, ferem no mínimo o principio constitucional da igualdade. Ou por inaceitáveis são a antecâmara de uma pressão indecente como a que foi feita aos técnicos?
 
Já o que foi afirmado numa reunião com todos os técnicos ofende não só os presentes. Depois de três anos em que o desempenho da equipa do Service, a que também pertenci, se manteve quase sempre no primeiro lugar, não se aceita, que pelo facto da Direcção Comercial não ter conseguido potenciar, nem tão pouco vender decentemente esse desempenho, venha agora sacudir a água do capote afirmando que qualquer temporário tem o mesmo desempenho que os técnicos efectivos. Na verdade isso prova-se no terreno, não com conversa da treta, mas o que falta provar, com números de quem saiba fazer contas, é que um temporário fica mais barato à companhia que um efectivo e a resposta que ficou por dar, é que, nessa linha de análise, o que os resultados comerciais parecem provar, de recorde em recorde,  é que qualquer "macaco" montado num BMW teria feito melhor!

Na proposta indecente que se seguiu alega-se que os técnicos ganham acima dos valores do mercado! E os gestores? Ou para esses o mercado é outro?  O mercado é radical na análise dos resultados e quando se diz que não se perdeu  nenhum negócio esqueceram-se as mais de 4000 máquinas que foram para a Wincor no concurso da SIBS, as que a Tecnocom vendeu no BCP, ou a Fujitsu no BES, ou a Shima no Banif....Afinal o único sitio onde não se perdeu foi no MG e porque se evidenciou uma valia técnica que já foi dispensada. É a estória do copo: - para uns está meio cheio, para outros meio vazio, conforme a conveniência.
  
Também poderia parecer estranho que quem costuma ser tão fundamentalista na defesa da sua "quinta", sobretudo quando se trata de defender o indefensável, tenha agora optado por um conveniente silencio. Provavelmente já comprometido com o papel desprezível a que se sujeitou. Capitão que se preze prefere perder o lugar a perder a confiança do "balneário"; mas quando a "braçadeira" não foi conquistada com mérito, só pensa em salvar a pele.

O tempo explicará a quem interessa este baixar o moral das "tropas", mas exigia-se, no mínimo, um pouco de respeito pelas pessoas.

Apresentação

Hoje foi o dia da minha 1ª apresentação quinzenal e para não ser tudo mau constatei que neste país ainda vale a pena reclamar.
 
A ultima vez que tinha ido à delegação de Condeixa da Segurança Social tinha pedido o livro de reclamações porque não havia distribuidor de senhas para regular a ordem de chegada e porque o tesoureiro, que normalmente atende meia dúzia de pessoas por dia, estava a "bater uma sorna", apesar da fila, e de só haver uma pessoa a atender.
 
Hoje verifiquei com agrado, que não só existe o distribuidor de senhas, tal qual eu tinha sugerido, como também o tesoureiro, quando não tem recebimentos, faz atendimento geral. Gostei!
 
De resto fui atendido com muita simpatia por uma senhora que lamentou a minha situação e me marcou a próxima visita para daqui a exatamente 15 dias.

Despedida

A forma como os actuais directores da Dius sairam criou neles e em quase todos os que hoje os acompanham aquilo a que eu chamo de espírito Dius e que se resume muito facilmente assim: - Eles abrirão uma garrafa de champanhe no dia em que a Talaris Portugal feche portas, e vão bebendo um copo a cada notícia menos boa do "lado de cá".

Tem-se tornado praxe com esta gestão que a maioria das pessoas saia da companhia com espírito Dius, (e viva o GPTW para inglês ver...), mas comigo, sobretudo comigo, dados os contornos da minha estadia na companhia nos últimos anos, decididamente não havia necessidade!

Não sou rico, sou capaz de pagar para trabalhar quando gosto do que faço e acredito no projecto, mas a negociar não me tenho por "tótó" e detesto que me tentem "comer as papas na cabeça". Por isso a negociação para a minha saída não foi fácil, mas mais uma vez da minha parte feita com lealdade e lisura. Nunca pedi mais do que, tendo em conta a prática da companhia, me era devido. E não me deram tudo. E para isso usaram jogo sujo, aproveitaram-se indecentemente dos condicionalismos da conjuntura nacional actual e mataram a negociação com uma proposta que nunca teriam coragem de fazer em condições normais, pois sabiam que corriam o risco real que eu aceitasse. E decerto que não era eu que ia ver com " quantos paus se faz uma canoa"!

Isto faz-se a um sacana, mas eu nunca fui um sacana para a companhia ou para esta gestão, apesar de para com esta gestão ter todas as razões para lhes retribuir na mesma moeda. Sempre mereci um pouco mais de respeito do que aquele que tiveram por mim, mas sem ressentimentos, as atitudes só classificam quem as toma.

Quase vinte e um anos de dedicação terminaram assim:

From: Coutinho, Americo (Sintra)
Sent: sexta-feira, 20 de Maio de 2011 15:55
To:
Subject:

Boa tarde!

Tudo tem um fim! Vinte e um anos....uma vida.....a Talaris NÃO tem mais encanto na hora da despedida!!!!

Três desejos para quem fica:

 - Aos amigos (poucos):          

                        - Há amizade para além da Talaris!

 - Aos incompetentes (a quem o meu "mau feitio" sempre tanto incomodou):

                        - Que se cumpra o provérbio: - "Depois de mim virá quem bom me fará!"

 - Aos outros (a maioria):

                        - Que Deus vos dê bons amigos e vos livre rapidamente dos incompetentes!

Vou andar por aí!

O Degredo

Os últimos 37 meses de funcionário da Talaris foram simultaneamente os mais difíceis mas os que me deram mais gozo.

Sempre me dei muito mal com incompetentes e com aqueles que tal as plantas parasitas se alimentam da "seiva" dos outros e quando ganham raízes acabam por destruir quem os fez crescer.

Os primeiros meses deram logo para ver que alguns desses espécimes que por lá ainda hoje proliferam não me iam dar tréguas, mas a cumplicidade técnico-profissional  que  existiu praticamente desde o primeiro dia com o meu chefe direto Jorge Augusto, numa 1ª fase protegeu-me e na 2ª preparou-me para sobreviver sozinho.

Já a relação com JF, que sempre foi o chefe, apesar dos chefes que me foi arranjando, foi da minha parte sempre baseada na mais completa das frontalidades e lealdade. Montes de vezes não senti reciprocidade, sobretudo porque no seu egocentrismo, na mania que virou doutrina de que qualquer macaco com uma mala de ferramenta é um técnico capaz de resolver qualquer problema, nenhum colaborador é mais que um custo, as relações profissionais são um jogo de sobrevivência para os espertos e não para os competentes e, talvez por isto tudo, compra com muita facilidade tudo o que lhe for bem vendido, mesmo que pague preço de boutique por "roupa" de feira.

Nesta empresa, apesar de nunca ter passado disso, praticamente assentei praça em sargento e por isso nunca fiz muitas manutenções preventivas, apesar de nas minhas funções de coordenador técnico ter muitas vezes ensinado os técnicos a fazerem-nas corretamente, de forma a que proporcionassem os resultados desejados.

Há no entanto quem tendo começado no field como eu, hoje ocupe lugar de destaque, e porque sobrevive à custa dos mitos que soube criar, e chegou onde está não porque algum dia tenha sido uma estrela, mas porque "em terra de cego quem tem olho é rei", sabe, como eu sei, que se fosse fazer uma manutenção preventiva, teria de seguida chamar um técnico para que a máquina ficasse a funcionar.

Na expectativa de me deixar "mal na foto" vendeu, e o JF comprou, que o Suporte Técnico fosse fazer manutenções preventivas a ATM's, trabalho que nesta empresa sempre foi, erradamente, considerado um trabalho menor, praxe para iniciantes.

Como os "calos no rabo" servem para alguma coisa, escolhi as ATM que nos últimos 3 meses mais chamadas tinham originado e que por isso estavam com um call rate muito acima da média. Meia dúzia de preventivas chegaram para que o lobo saísse tosquiado, pois coincidência das coincidências, feitas as manut's todas as ATM's intervencionadas deixaram milagrosamente de avariar todos os dias e passaram a ter um call rate, nos meses seguintes, abaixo da média.

Apesar disso, esta guerrilha constante, estúpida e sem nexo, manteve-se durante os três anos, sem que ninguém, fizesse alguma coisa para a terminar, mesmo quando, algumas vezes, ela afetou o desempenho e até a imagem da companhia junto dos clientes.

Numa companhia que faz das reestruturações o seu modus vivendi, acabei na assessoria técnica à equipa de gestão de contratos, sob a batuta da chefinha Sandra, que alia a sua competência e profissionalismo a um contagiante e constante bom humor o que faz desta equipa um oásis, a ponto de muitas vezes me ter sentido num verdadeiro great place to work.

Resta-me agradecer às minhas professoras de português, do secundário, as redações que me obrigaram a fazer. Ser o redator de serviço foi um trabalho que me deu imenso gozo, mais ainda quando me passavam pelos olhos alguns mail's escritos em "português de Alverca".

O Dispensador

"Estais lixados com um F muito grande! O tipo na Pararede era conhecido pelo dispensador, pois sempre que era necessário reduzir custos o departamento dele tinha sempre alguém para dispensar".

Foi assim que me foi anunciado, por quem, tendo saído da companhia continuava a ter acesso ás novidades em 1ª mão, o sucessor de António Borges. Hoje quase 3 anos e meio depois, dadas a contingências do negócio, ou não, tenho que considerar que a única coisa notável na atuação de João Ferro, foi dispensar colaboradores, mas pior que isso é que tenho de classifica-lo como um dispensador velho, dado não possuir modo ERF (escolha) e desafinado, pois dispensa preferencialmente "notas" de alto valor e em bom estado de conservação.

Pouco tempo depois era apresentado na ultima reunião do novo Diretor Geral com os técnicos do norte, reunião onde o DG foi confrontado com alguns erros estratégicos do passado, dadas as preocupações legitimas dos presentes com a proximidade do novo concurso da SIBS.

Dessa reunião saí com a "etiqueta" de sindicalista, apesar de ser mais ou menos publico a minha militância no PSD desde 1975, de achar que o sindicalismo sensato não morde em ninguém, servindo, como é exemplo flagrante o caso da Autoeuropa em Setúbal, de motor de progesso e harmonia na empresa, e com um convite, que aceitei, para integrar um grupo de análise e proposta de melhorias, no âmbito do inquérito "Great Place To Work".

Mas na DLR Portugal não existe qualquer tipo de sindicalismo, e quanto à Gestão qualquer semelhança com a da Autoeuropa é pura coincidência. Aqui, em vez do diálogo, da transparência, da motivação, cultiva-se o medo como comprovam os monólogos em que se transformaram as reuniões gerais, onde alguns são previamente coagidos pelas chefias a não usarem da palavra, apelidam-se os bem intencionados membros dos grupos de reflexão sobre o GPTW de lunáticos, apesar do ambiente de trabalho e dos resultados operacionais e comercias da companhia deixarem progressivamente a ideia de que são outros os que não têm trazido os pezinhos bem assentes no chão.

Poucos meses depois,  mais propriamente em Março de 2008, na sequência dos resultados desastrosos do concurso para assistência ao parque SIBS,  estava sentado à frente do João Ferro, porque tinha sido colocado na lista de dispensáveis por um chefe pouco seguro do seu lugar (foi dispensado), a ouvir uma proposta alternativa à dispensa a que só faltava o nariz de palhaço. Apesar da proposta ser ofensiva para quem durante 18 anos tinha servido a companhia com competência e dedicação, e merecedora de um "meia volta volver", resolvi "pegar o touro pelos cornos" e depois de 3 horas de discussão e posta no lixo a proposta inicial, vi-me em Sintra, no Suporte Técnico, com condições minimamente aceitáveis e em linha com as praticadas para os coordenadores que ficaram.

Foi um desafio enorme para os meus 52 anos de idade, deixar a família  e as comodidades em Coimbra, para viver toda a semana sozinho num apartamento em Sintra, abandonar o field e ingressar num escritório, onde a entrada de leão de JF fazia com que se ouvissem as moscas, e onde alguns ainda hoje não engoliram a minha ousadia. 
Valeram-me os "calos" conseguidos ao longo de quase 30 anos de profissão, a maioria deles dependente de chefes tão inseguros como incompetentes, que me valeram a fama bem maior que o proveito de "mau feitio".

Mas valeu-me sobretudo, no choque inicial que normalmente é o pior, a classe, a competência, a honestidade e por fim a amizade do meu novo chefe, o mestre Jorge Augusto, que em pouco mais de 6 meses conseguiu ensinar-me mais que todos os outros em quase 30 anos e a quem aqui deixo uma vénia e um abraço de grande amizade. Por uma razão ou outra quase todos os chefes nos deixam marcas, mas o mundo seria bem melhor se todos os chefes se tornassem inesquecíveis pelas mesmas razões que nunca esquecerei Jorge Augusto.

Chorei quando JF sub-repticiamente, lhe indicou a porta de saída, muito pela falta que me fez, mas também por perceber que uma companhia que tem nos seus quadros chefias de ocasião, cujo português (língua nativa e única que falam) mais parece um dialeto, e dispensa colaboradores como Jorge Augusto, decididamente não tem futuro.

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