Outono

No ocaso do verão, começam a ser evidentes os sinais melancólicos do amarelo das folhas, do orvalho nos carros à noite, melancolia que estende à alma pois também se começa a sentir o aproximar  veloz do outono da vida, subitamente acelerado por uma inatividade forçada e por este sentimento de inutilidade que não desejei e para o qual também não contribui. Apesar das opiniões piedosas das saudosas amigas e amigos, sinto que envelheci mais nos últimos quatro meses, que nos anteriores 3 anos.

Melancolia que se reforça com as notícias dos pés de Mercúrio, onde os deuses parecem estar, ou continuar loucos. Desde logo, e comecemos pelas alegrias, apesar da crise ainda há quem consiga encontrar projectos mais aliciantes e saia pela porta grande, em contraponto com os que empurrados para a saída, puseram os pés à porta reclamando um tratamento de igualdade que até está consignado na Constituição.

Paralelamente escrevem-se requiems estranhos exaltando os pretensos algozes como que agradecendo uma pedida, consentida, ou combinada eutanásia. 

Regista-se a alegria contida dos soldados, que cortados no "pré" o viram em certos meses aumentado, contida porque quando a galinha é gorda o pobre desconfia, sendo que o moral das tropas continua refletido nos resultados e próximo do zero. Também já se tinha notado que o excesso de "contabilistas" nunca significou mais senso com as contas, antes pelo contrário.

Divertida a mudança de registo de quem, por força de tanto cortar nos luxos, se viu obrigado a "descer aos infernos" e, tal maestro sem músicos, a pegar na sanfona! No entanto,  contrariando a teoria vigente, a cruel linguagem de um ranking nunca visto, mostra à evidencia que há cada vez mais sapateiros obrigados a tocar rabecão.

Por tudo isto, e a menos que os "grandes lideres" inventem ou tenham na manga um plano B, que promova surpreendentes, ou nem tanto, ressurreições, também no reino de Mercúrio o outono parece aproximar-se  tornando cada vez mais provável, que tal ave migratória, as sandálias aladas levantem voo para outras paragens, para, quem sabe não mais voltarem.

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